A relação da dieta e do estado nutricional com o risco de desenvolvimento de câncer tem sido o maior foco das pesquisas em saúde pública. A dieta representa o papel principal na etiologia e prevenção do câncer. Curiosamente, vários estudos têm demonstrado que o câncer é, em grande parte, uma doença evitável, e que sua incidência pode ser substancialmente reduzida com modificações dietéticas. Abaixo estão listados alguns alimentos que possuem efeitos anticancerígenos.
Alho
Desde a antiguidade, o alho (Allium sativum) é utilizado por suas qualidades medicinais. De fato, esta planta possui efeitos benéficos em diversas doenças, incluindo câncer, doenças coronarianas, obesidade, hipercolesterolemia, diabetes tipo 1 e 2, hipertensão, catarata e algumas desordens gastrintestinais. Vários estudos vêm demonstrando a redução do risco de diferentes tipos de câncer devido ao consumo de alho.
O alho fresco contém vários compostos organossulfurados, elementos traço de origem fenólica e esteróide, além de carboidratos, proteínas e fibras alimentares. Os compostos organossulfurados do alho são considerados agentes quimioprotetores do câncer, pois podem causar uma suspensão da proliferação das células cancerosas e induzir a apoptose (morte celular programada).
Feno-grego
O feno-grego, ou alforva (Trigonella foenum graecum), é tradicionalmente utilizado para tratar diabetes, hipercolesterolemia, ferimentos, inflamações e doenças gastrintestinais. O extrato destas sementes inibe o crescimento tumoral e também produz um significativo efeito anti-inflamatório. Além disso, em experimentos feitos com animais, a inclusão do pó das sementes de feno-grego na dieta reduziu a incidência de tumores no cólon, diminuiu a peroxidação lipídica e aumentou as atividades enzimáticas do sistema antioxidante.
As sementes de feno-grego são fonte rica em fibras e saponina. Diversos estudos in vivo e in vitro observaram efeitos antiproliferativos das saponinas sobre diferentes tipos de células cancerosas.
Chá verde
As propriedades benéficas do chá verde são basicamente provenientes dos polifenóis (classificados como catequinas) e sua potente ação antioxidante. O chá verde contém seis compostos de catequinas principais: catequina, galocatequina, epicatequina, epigalocatequina, galato epicatequina e galato de epigalocatequina (conhecido como EGCG). A bebida também contém alcalóides, como a cafeína, teobromina e teofilina, que conferem ao chá verde efeitos estimulantes. O EGCG é o polifenol mais estudado por ser um potente antioxidante e protetor das células e do DNA contra os radicais livres. Seus benefícios conferem proteção contra o câncer, aterosclerose, obesidade, doenças cardiovasculares e neurodegenerativas.
Soja
O grão de soja é rico em proteínas de alto valor biológico (aproximadamente 50% do grão), isoflavonas, saponinas, fitoesteróis, ácido fítico, fosfolipídios, ácido ascórbico, minerais e fibras alimentares. Em experimentos realizados com animais, foi observado que as isoflavonas da soja melhoraram a sensibilidade à insulina por diminuírem a deposição de gordura visceral e inflamações, além de poderem reduzir os níveis de colesterol plasmático. Além disso, resultados de diferentes pesquisas sugerem que a proteína da soja pode reduzir a massa gorda em casos de obesidade.
O consumo de soja está sendo associado com diminuição do risco do desenvolvimento do câncer de mama, próstata e cólon. Ambas, proteína da soja e isoflavonas, têm revelado diferentes efeitos anticancerígenos, como atividade anti-angiogênica, apoptose celular e modulação da progressão do ciclo celular.
Momordica
A momordica (bitter melon, em inglês, ou melãozinho, como é mais conhecido) contém algumas substâncias (glicosídeos, alcalóides, derivados do ácido linolênico conjugado e proteínas) que fazem com que o seu extrato apresente efeitos comparáveis à ação dos hipoglicemiantes orais, como metformina e tiazolidinadiona. Estudos observaram que o melãozinho é capaz de inibir a hipertrofia dos adipócitos, reduzir a adiposidade, diminuir a concentração sanguínea de glicose, colesterol e triglicérides, melhorar a sensibilidade à insulina e aumento da concentração sérica de adiponectina. O ácido linolênico, presente no óleo das sementes do melãozinho, pode regular e induzir a apoptose em células do câncer de cólon e as proteínas têm demonstrado poder de inibir o crescimento de células do câncer de mama in vitro e in vivo. Em experimentos com animais, o extrato do melãozinho inibiu o desenvolvimento do câncer de pele, de mama e de cólon.
Peixe
Muita atenção tem sido dada aos efeitos benéficos do óleo de peixe, rico em ácidos graxos poliinsaturados ômega-3, e do óleo de oliva, rico em ácidos graxos monoinsaturados, como o ácido oléico. Os componentes protetores dos peixes são os ácidos graxos de cadeia longa, ácido eicosapentaenóico (EPA) e ácido docosahexaenóico (DHA), juntamente com as proteínas, vitaminas e minerais. Por outro lado, existe a preocupação sobre os riscos à saúde devido às contaminações ambientais possivelmente encontradas nos peixes. Contudo, evidências epidemiológicas estabeleceram que a ingestão de óleo de peixe promove efeitos protetores em diversas desordens, como doenças cardiovasculares e câncer.
Por meio de alguns mecanismos, os ácidos graxos ômega-3 podem modificar o processo carcinogênico, o que inclui supressão do ácido araquidônico, influências na expressão dos genes, alteração do metabolismo do estrógeno, efeitos contra radicais livres e envolvimento na sensibilidade à insulina. Ademais, é comprovado que o óleo de peixe possui efeitos antiobesidade e pode reduzir inflamações.
Bibliografia (s)
Murthy NS, Mukherjee S, Ray G, Ray A. Dietary factors and cancer chemoprevention: an overview of obesity-related malignancies. J Postgrad Med. 2009;55(1):45-54.